Por conta de um apagão elétrico no Amapá, a capital Macapá será a última a realizar a eleição para a escolha de prefeito e vereadores no país. Uma vitória do ex-governador João Capiberibe, que lidera as pesquisas de opinião, garantirá ao PSB a possibilidade de comandar três capitais. No segundo turno, o PSB conquistou as prefeituras de Recife e de Maceió.
Os 292 mil eleitores de Macapá irão às urnas nos dias 6 e 20 de dezembro, caso haja 2º turno. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Ecos no dia 29 de novembro, Capi tem 21,4% dos votos válidos, em empate técnico com Josiel Alcolumbre (DEM), que tem 20,6%.
O adiamento da eleição foi determinado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) depois que 14 dos 16 municípios do Amapá, incluindo a capital Macapá, ficaram no escuro.
O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, afirma que a candidatura de Capi é uma das prioridades desta eleição, por sua trajetória política e seu compromisso com as bandeiras socialistas.
“Capi tem uma linda história de luta democrática e de compromisso com os interesses da população de seu Estado e do país. A transparência, uma marca do partido que se tornou nacional, é de sua autoria e serve de exemplo aos nossos governos país afora”, afirma Siqueira.
E completa: “Sabemos que mais uma vez você será um orgulho para o nosso partido pela forma como conduziu os seus mandatos, e pela forma como você tem honrado os seus compromissos como os setores mais empobrecidos da população.”
Capi é um nome histórico da luta pela democracia e pelos direitos sociais no país, com longa experiência em governos e no parlamento. O socialista foi prefeito da capital pela primeira vez no final da década de 90 e governou o Estado por duas vezes, entre 1995 e 2002. Em 2011, foi eleito senador da República.
Como em outras eleições, neste pleito, o socialista enfrenta a um só tempo os setores mais conservadores e poderosos do Estado. Seu adversário tem o apoio do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM), seu irmão, do governador Waldez Góes (PDT) e ainda do prefeito Clécio Luís, (sem partido).
Mas como diz o próprio Capiberibe, quando perguntam a ele por que decidiu se candidatar à prefeitura de Macapá mais uma vez, sua motivação se resume a três palavras: “resistência, esperança e participação popular”.
Movido por esses sentimentos, Capi de novo coloca sua experiência como gestor público e senador da República a serviço da população de Macapá, acreditando que “para construir um bom legado, é preciso saber enfrentar desafios e, para isso, fazer uso dos princípios da transparência, da democracia participativa e da gestão compartilhada”.
O socialista é autor da Lei da Transparência, que prevê que todos os governos no país tornem públicos os dados da administração aos cidadãos. Uma verdadeira revolução em um país que historicamente nega os direitos mais elementares ao povo.
A segunda iniciativa inovadora durante seu mandato de senador foi o projeto da Gestão Compartilhada, que permite ao cidadão acompanhar os gastos públicos de obras e de serviços em tempo real via aplicativos de internet.
A proposta representa um novo modelo de acompanhamento de recursos públicos, em uma comunicação direta com a população e o poder público por meio das redes sociais. A ideia é evitar desvios, abusos e obras paradas.
“É muito fácil fazer discurso. Agora construir mecanismos que combatem na prática a corrupção, isso só aqueles que têm o real compromisso com a gestão da coisa pública que fazem, como o nosso cidadão João Capiberibe”, afirma Capi.
Uma vida de luta
Capi foi um típico menino ribeirinho da Amazônia. Nascido em Afuá, pequeno município do interior do Pará, aos sete anos Capi saiu do coração da Ilha do Marajó e desembarcou em Macapá, no Amapá.
A convivência amazônica influencia fortemente a atuação política de João Capiberibe.
Aos 17 anos foi para Itaúna, em Minas Gerais cursar Economia, quando ingressou no Movimento Estudantil. Deixou Minas e foi para Belém no final de 1968, quando se engajou na Ação Libertadora Nacional (ALN), de Carlos Marighella, para lutar contra a ditadura militar, pagou caro pela sua ousadia: foi preso, torturado e exilado, foi com a família para o Chile, Canadá e Moçambique. Sua companheira desde a juventude, a ex-deputada Janete Capiberibe(PSB-AP), participou junto com ele da luta política, os dois se conheceram na juventude, militaram juntos, foram presos juntos, mais tarde se elegeram juntos desde a primeira eleição do casal, ele para prefeito de Macapá, em 1988 e ela para vereadora da capital.
Durante o exílio, no Canadá, trabalhou na Agência Internacional Canadense para países em desenvolvimento e foi transferido para Moçambique, onde participou das mudanças que aquele país vivia logo após sua independência de Portugal. No livro “Florestas do meu exílio”, de sua autoria, Capi conta a sua história no auge da ditadura, aonde junto com sua família atravessou 3 fronteiras até chegar ao Chile governado por Salvador Allende, onde foram acolhidos. O livro narra essa epopeia e traça um rico panorama da vida política na América Latina e das lutas contra os governos ditatoriais.
De volta ao Brasil, em 1979, trabalhou com Miguel Arraes em Pernambuco organizando agricultores em associações na Zona da Mata e Agreste daquele estado para melhorar suas condições de trabalho e de vida. Também teve passagem pelo estado do Acre, onde foi subsecretário de agricultura do Vale do Juruá, organizou agricultores em cooperativas e fomentou a cadeia produtiva da biodiversidade amazônica, como o cupuaçu e o guaraná.
Foi secretário de agricultura do estado do Amapá em 1985. Eleito prefeito de Macapá em 1988, logo em seguida, em 1989, deu os primeiros passos na implantação da transparência pública no Brasil, publicando em outdoors em frente ao prédio da prefeitura, receitas e despesas do Erário municipal. Foi eleito e reeleito governador do Amapá, no período de 1994-2002. Como governador criou o primeiro portal de transparência de uma instituição pública do Brasil, que serviu de modelo para os primeiros portais do governo federal.
Em 2002 foi eleito senador e reelegeu-se em 2010. É autor da Lei Nacional da Transparência (LC n.131/2009), Lei Capiberibe, sancionada pelo presidente da República em 2009, que complementa a Lei de Responsabilidade Fiscal e obriga a União, os estados e os municípios a divulgar seus gastos na Internet em tempo real. Com a Lei Capiberibe a internet torna-se o meio de comunicação da transparência no Brasil. Um instrumento fundamental, que antecedeu a aprovação da Lei de Acesso à Informação(LAI), no combate à corrupção.
Assim como inovou, a partir de uma experiência prática, com a Lei da Transparência, Capi recentemente, em 2017, deu um passo adiante e criou a Gestão Compartilhada, que, por meio de grupos de WhatsApp e do Facebook, permite a participação ativa dos interessados na execução de obras e serviços realizados com dinheiro das emendas parlamentares de sua autoria. O projeto de Gestão Compartilhada aproxima cidadãos, políticos, serviço público e empresas envolvidas em trabalhos para o Estado, com isso melhora a qualidade dos serviços e obras e permite o controle social dos recursos públicos. A matéria foi aprovada por unanimidade no Senado Federal e está pronta para ser votada no plenário da Câmara dos Deputados.
Nas eleições de 2018, Capi concorreu ao governo do Amapá e mesmo liderando todas as pesquisas políticas perdeu as eleições, pois foi vítima de uma decisão judicial do Tribunal Regional Eleitoral do Amapá, que impugnou sua candidatura na véspera da eleição. A decisão foi revertida tardiamente pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Isso acarretou prejuízos irreversíveis ao processo eleitoral e à candidatura de Capi, ao passo que os eleitores não sabiam da validade da candidatura. Uma lamentável manobra política.
Desde 1987 é membro do PSB, em 2019 assumiu a vice-presidência Nacional de Modernização Partidária, aonde é um dos responsáveis pelo processo de Autorreforma do Partido.