Autor: Senadora Lúcia Vânia (PSB-GO)
Todos os que me acompanham aqui neste espaço, sabem o quanto tenho falado da juventude brasileira: recentemente escrevi sobre o verdadeiro genocídio a que tem sido submetido o jovem no Brasil, abordei a séria questão do desemprego do jovem, dentro da tão analisada crise brasileira, também já falei da questão da renda e escolaridade dos jovens, da sua educação e, ainda, dos jovens empresários.
Não há dúvida de que o jovem é participante efetivo da construção da sociedade brasileira, ora como sujeito, ora como protagonista. Hoje, até levando em consideração a importância política deste ano, quando teremos eleições para os cargos majoritários, teço considerações sobre a participação dos jovens nesse processo que poderá apontar novos rumos para o país.
A juventude é uma condição social representada por uma faixa etária que, no Brasil, congrega cidadãos e cidadãs com idade compreendida entre os 15 e os 29 anos. Pesquisas têm sido feitas desde 2003, inclusive com a participação da Unesco, apontando que a participação dos jovens em entidades, associações e agremiações era de baixa intensidade, mas que eles acompanhavam a tendência participativa do conjunto da população. O perfil da juventude brasileira apontava que, dos jovens entrevistados, apenas 15% participava de algum tipo de grupo juvenil. Quase metade dos jovens participava de grupos culturais, 4% deles de grupos religiosos e a participação em partidos políticos não chegou nem caracterizar números para uma mensuração.
De qualquer maneira, nota-se que a juventude, tanto há dez anos, quanto agora, está sub-representada nos partidos políticos. Embora tenhamos que considerar que o conjunto da população também tem participação restrita na vida partidária: apenas 10% da população votante do país é filiada a partidos.
Os jovens, que são pelo menos 20% da população, têm estado à margem dos processos decisórios que levam à formulação de políticas públicas pelo governo brasileiro.
Olhando para os dias atuais, só consigo imaginar que os jovens sejam sujeitos e atores sociais. Temos que criar meios de fortalecimento da capacidade de ação dos jovens e contribuir para o seu desenvolvimento pessoal integrado, intensificando a integração da sua experiência com os seus projetos pessoais. Isso é uma responsabilidade dos próprios partidos políticos, que têm sido impermeáveis à participação dos jovens nas suas estruturas.
Pesquisa Data Popular revela que a juventude brasileira, embora possa não parecer, é mais bem informada do que os seus pais. A pesquisa, realizada com 3.500 jovens em todo o país, revela que essa juventude, por contribuir decisivamente na renda familiar, passou a ter peso nas decisões políticas das famílias brasileiras. O que se percebe, então, como um recado aos políticos, é que esses jovens passaram a pesar e influenciar no voto dos familiares, podendo até decidir a eleição.
Como na maioria da população brasileira, 63% dos jovens acreditam que o Brasil não tem estado no rumo certo. Por isso, querem serviços públicos de qualidade, maior conectividade, acessos livres à banda larga e à tecnologia de ponta. E não abrem mão da recuperação do poder de compra.
92% dos jovens acreditam na própria capacidade de mudar o mundo e 70% de que o voto possa mudar o país. E mais, mesmo parecendo avessos à política como ela é feita no país, 80% reconhecem o papel determinante da política no cotidiano brasileiro.
Na verdade, para os jovens, os partidos políticos e os governos não falam a linguagem deles. O pesquisador Renato Meireles expressa essa situação assim: “os políticos são analógicos e a juventude digital”. Foi Meireles quem criou o verbete “Geração D”, numa referência à juventude conectada.
São esses jovens conectados que foram às ruas em 2013, assustando os políticos tradicionais e causando admiração em todo o país. Temos que ter consciência que os jovens foram às ruas para cobrar mudanças significativas na política brasileira.
Hoje, quando emergimos da crise, os jovens estão vindo desejosos de influenciar. Eles representam a história de vida de milhões de brasileiros que deixaram para trás a pobreza, foram atingidos pela crise, e agora querem emergir com o país.
Tenho a alegria de perceber que os jovens hoje estão olhando para a frente e não para trás. Afirmo, sem nenhum receio de errar, que os políticos e os partidos que não atentarem para o que o jovem está pensando e querendo, vão ser jogados para o lixo da história.
Estejamos atentos, porque nesse mundo interativo, a capacidade que o jovem tem de assimilar as transformações tecnológicas, interfere em como eles agem, pensam e levam o seu ritmo de vida.
Meireles, que citamos há pouco, é extremamente feliz, ao dizer que: “Essa juventude quebra a lógica política tradicional e ideológica”. E completa: “Principalmente porque os jovens dessa geração utilizam-se de uma régua muito mais rigorosa para medir a qualidade do serviço público do que os pais”.
* Artigo originalmente publicado no Diário da Manhã em 16/1/2018