Por Caio Junqueira do Jornal Valor Econômico / De Brasília
O JP Morgan, um do principais bancos de investimentos do mundo, produziu um amplo relatório sobre as eleições presidenciais de 2014 destinada a seus investidores em que traça um cenário completamente aberto na disputa. Diz que a economia pode fragilizar a candidatura de Dilma Rousseff (PT), que Marina Silva (Rede) não deve decolar, que Aécio Neves (PSDB) deve enfrentar problemas e que Eduardo Campos (PSB) tem boas chances para crescer.
O banco prevê Dilma com dificuldades decorrentes do cenário econômico com baixo crescimento do PIB, aumento do desemprego e da inflação. Cenário, segundo o relatório, muito diverso do que a elegeu em 2010. "A performance do PIB nos dois primeiros anos de governo Dilma será provavelmente a pior em uma década. O que até recentemente era um mercado de trabalho pressionado, agora tende a ser mais flexível, com redução da criação de empregos e possível fins dos ganhos reais nos salários."
O texto diz que as demandas das ruas serão trazidos para a campanha e que a população acredita que o governo não reagiu bem a isso, muito em razão da natureza dessas demandas: a melhoria na qualidade dos serviços públicos, o que demanda tempo para ser atendido. Disse que em outros países os protestos foram seguidos por mudanças eleitorais, como Egito, Israel e Tunísia.
Nesse cenário, o banco coloca que esse risco político enfrentado pelo governo pode implicar em medidas ruins para o mercado, dado o "hiperativismo e intervencionismo do governo na macroeconomia". Afirma que a probabilidade é de que Dilma se estabilize em 35% dos votos, o que mostra que, mesmo com as perspectivas econômicas, é uma candidata forte. Principalmente pela força do PT.
Para o JP Morgan, Marina parece não ter grandes chances. Avalia que seu bom posicionamento nas atuais pesquisas decorre da lembrança de 2010 e de ser beneficiária dos protestos. Destaca o fato de ela não ter estrutura partidária para competir, além das dificuldades para formar coalizão. O banco deixa claro ainda sua preocupação quanto a suas dificuldades para lidar com interesses políticos, especialmente no Congresso.
O banco avalia que seus votos devem migrar para Aécio e, principalmente, Eduardo Campos. "Acreditamos que conforme as pessoas estejam mais atentas de quem são os candidatos, a intenção de votos deles deve crescer. Isso é mais fácil de ocorrer com Campos, considerando que 44% dos eleitores não sabem quem eles são. Mesmo no Nordeste, onde ele supostamente é forte, 42% dos eleitores não sabem quem ele é".
O governador de Pernambuco representaria a "continuidade, sem continuísmo", com a manutenção de programas sociais da era petista mas com novo viés para o setor privado: menos intervencionismo, eliminação de barreiras para investimentos privados e estímulo a competição: "Campos tem se reunido com muitos empresários, promovendo a plataforma de que irá induzir o investimento privado e reduzir as barreiras a ele, adotando menos intervencionismo e uma estratégia favorável ao lucro e a competição. É inquestionável que essa é uma das maiores necessidades do Brasil."
Sobre Aécio, destaca seu governo bem avaliado em Minas Gerais. Para o banco, modernizador na gestão das contas públicas. Mas coloca que muitos acham que sua vida social pode atrapalhar sua campanha. "Ele sempre aparece em fotos de paparazzi em festas disputadas. Muitos acreditam que isso pode trabalhar contra ele durante a campanha". Por outro lado, coloca que se trata de um desconhecido nacionalmente – o que pode lhe dar potencial de crescimento – e que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), responsável pelo Plano Real, o apoia.
Em relação a José Serra (PSDB), o banco afirma que ele causaria um efeito desestabilizador na campanha, mas que não chega a ser competitivo. Sua colocação razoável nas pesquisas decorre de sua participação em duas eleições presidenciais. "Serra tiraria mais votos de Aécio do que de qualquer outro, o que é um prejuízo apenas para o PSDB, em todos os sentidos."
O eventual retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é tratado como algo com 30% de chances de ocorrer. "Não achamos que Lula queira retornar e colocar em xeque seu legado em ambiente de crescimento menor da economia. Além disso, suas condições de saúde são sempre discutidas. Ele está com 67 anos e sua aparência mudou após tratamento contra o câncer". Ressalta, contudo, que se no fim do primeiro semestre de 2014 Dilma estiver fraca nas pesquisas, ele pode voltar.