Dezenas de mães relataram nesta segunda-feira, 9, a perda de seus filhos para a violência nas favelas do Rio de Janeiro, durante audiência pública promovida pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as razões do assassinato de jovens no país. Os familiares das vítimas manifestaram, em comum, sensação de impunidade e desejo de justiça.
A senadora Lídice da Mata (PSB-BA), presidente da comissão, explicou que é necessário reunir dados qualificados para um diagnóstico preciso sobre as diversas fases das mortes violentas de jovens. O objetivo é propor medidas mais efetivas para o enfrentamento do problema.
“A ação da CPI é extremamente importante para garantir a investigação de uma situação que aflige a população brasileira, mães e pais de família que perdem seus filhos diariamente nas periferias das grandes cidades. Trata-se de uma agenda extremamente importante para a juventude brasileira”, declarou a senadora.
Das 56 mil pessoas assinadas por ano no País, 53% são jovens. Entre 1980 e 2013, houve um aumento de 640% nos homicídios de adolescentes no país. E a maior parte se deu por armas de fogo, segundo a pesquisa Mapa da Violência 2015.
O Estado que registra maior taxa de mortalidade entre os jovens é Alagoas, com 147,0 a cada 100 mil; enquanto o de menor taxa é Tocantins, com 13,8. No Rio de Janeiro, foram assassinatos 323 jovens em 2013, uma taxa de 62,5 mortes para cada 100 mil adolescentes entre 16 e 17 anos.
A audiência da CPI ocorreu na sede da Ordem dos Advogados do Brasil, no Rio de Janeiro, e contou com representantes do governo, do Judiciário, da polícia, de organizações de defesa dos direitos humanos e de familiares de vítimas da violência policial.
O filho de Terezinha Maria de Jesus, Eduardo de Jesus, de 10 anos, foi assassinado por policiais na porta de casa, no Complexo do Alemão, em abril. O inquérito foi encerrado recentemente, sem indiciamento de suspeitos, o que causou revolta nos familiares. “Meu filho estava na porta de casa. Alegaram troca de tiro, que não houve”, declarou a mãe de Eduardo.
A moradora da favela de Manguinhos, Ana Paula de Oliveira, mãe de Jonathans de Oliveira, morto aos 19 anos, em maio do ano passado, com um tiro nas costas, cobrou união contra a impunidade. “A vida dos nossos filhos também é importante. Não aceitamos não ter resposta da Justiça e do Estado”, criticou
Segundo a pesquisa Mapa da Violência, a maioria das vítimas são homens, negros, de baixa escolaridade, pobres e moradores das periferias das cidades,Também morrem três vezes mais negros do que brancos: em 2013, foram assassinados 703 adolescentes brancos de 16 e 17 anos no Brasil e 2.737 adolescentes negros na mesma faixa etária.
A CPI foi instalada em maio no Senado e o relatório final está previsto para ser apresentado no início de fevereiro de 2016. Desde a instalação, a Comissão realizou 22 reuniões, das quais 14 foram audiências públicas. Outras 14 audiências estão previstas até o final do ano.
Com informações da assessoria de imprensa