Autora: Márcia de Alencar, especialista em Segurança Cidadã e Prevenção Social do Crime reconhecida pela ONU desde 2009, gestora do Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça (2000-2009); secretária de Estado da Segurança do DF e secretária ajunta da Mulher, Igualdade Racial e Direitos Humanos do DF (2015 a 2017)
A cria da Maré se foi. O Rio sangrou. O Brasil se comoveu. O mundo reagiu. O que está acontecendo com o nosso país? Execução, racismo, misoginia, feminicídio?
Precisamos urgente das respostas. Não irão nos silenciar. Nós, as defensoras e os defensores dos Direitos Humanos, seguiremos na luta. Abre alas que vamos passar.
Marielle Franco, carioca do Complexo da Maré, negra, feminista, mãe solteira aos 17 anos. Socióloga pela PUC/RJ e mestre em Administração Pública pela UFF. Autora da dissertação UPP – A redução da favela a três letras. Defensora dos Direitos Humanos por 20 anos. Trabalhou em organizações da sociedade civil como a Brasil Foundation e o Centro de Ações Solidárias da Maré (Ceasm). Coordenou a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), ao lado de Marcelo Freixo, na qualidade de assessora parlamentar. Vereadora eleita pelo Partido Socialismo e Liberdade – PSOL numa das cidades mais violentas do Brasil e da América Latina: a cidade do Rio de Janeiro. Com mais de 46 mil votos, foi a quinta candidata mais votada na cidade em 2016. Sua tríade programática como parlamentar: Gênero, Raça e Cidade.
Da Maré ao Rio, de janeiro a dezembro, Marielle, incansável desde sempre. Coerente na práxis e nos ideais. Humanista e franca na defesa das mulheres, da negritude, das LGBTTII e dos Direitos Humanos no Brasil e no nosso continente.
Em 17 de fevereiro de 2018, o presidente Michel Temer assinou o decreto de intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro. Em 21 de fevereiro de 2018, o Congresso Nacional deu o aval para intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro. No Senado, foram 55 votos a favor, 13 contra e uma abstenção. Com a intervenção, as Forças Armadas assumiram a responsabilidade do comando das Polícias Civil e Militar no estado do Rio.
Ainda em fevereiro de 2018, Marielle foi nomeada relatora na Comissão que acompanha a intervenção federal no Rio de Janeiro. Em 14 de março de 2018, morreu brutalmente assassinada em uma emboscada com 9 tiros na sua exata direção, dos quais 4 atingiram sua cabeça e 2, pela trajetória dos disparos, acertaram o motorista Anderson Pedro Gomes, que a acompanhava em sua última atividade parlamentar, à noite.
Nós, brasileiras e brasileiros, trabalhamos pela consolidação do Estado Democrático de Direito desde 1988. A negação dessa condição exposta nos fatos latentes nesta tragédia, pode mostrar não só a face sombria das organizações criminosas que atravessam as favelas do Brasil; mas, e sobretudo, o recado daqueles que não militam por causas sociais e defendem o status quo sem exercer a Ética, seja de convicção ou de responsabilidade.
Marielle, resistiremos aqui. Presente, companheira!