Autor: Tadeu Alencar, deputado federal (PSB-PE) e líder do PSB na Câmara
Este é o último sábado do ano de 2019, o ano em que se descobriu que a terra era quadrada. Ano duro, que merece ser terminado logo. Tem momentos que é melhor apressar. Vivemos coisas indescritíveis no leito do ano que finda: ataques à Democracia, flertes descarados com a ditadura, censura, ataques à imprensa e à liberdade de expressão, aos direitos humanos, aos países amigos, uma quebra de decoro em tempo integral. A perseguição à cultura, aos artistas e o enfraquecimento das políticas ambientais em que o País se tornara referência é de uma gravidade sem tamanho. Com esse anti-intelectualismo boçal, essa misoginia de chinelão, o Brasil perdeu o charme.
Até o Rio de Janeiro, com a sua irrenunciável vocação, anda ressabiado, sem a luz da bossa nova, da lapa boêmia, do poetinha nas esquinas de Ipanema. O país ficou sorumbático, casmurro, como se a luz andante que banhava os trópicos se houvesse mudado toda ela, para iluminar Servilha a seduzir João cabral.
Hoje é a última sexta-feira do ano! Os prazos, decorridos. Os escritórios do governo em balanço. Todos os pregões assinalados. A contabilidade implacável afere se há lucros a distribuir. Coloquemos o boi para engordar no pasto das convergências. Conflitos já os há à larga.
Perdemos a delicadeza de um deixar passar, de ajudar um idoso, um doente, uma criança, de ser solidário. Ser solidário é uma elegância da alma, uma sofisticação da simplicidade. O que fizemos do nosso homem cordial e essas hordas de bárbaros, onde estavam escondidos? A insensatez dos extremos não interessa ao Brasil.
Como sou mais para os anos pares, não seria nunca – 2019 – o meu ano de eleição. Mas quanta coisa boa nele também aconteceu, coisas inefáveis até, marcadas com o ferro em brasa da memória. Não é que foi um ano ruim, foi um ano sobressaltado, palmilhado de sustos. Agora mesmo, já nos seus estertores, levou-nos o Mestre Francisco Brennand e, quarta-feira, Amim Stepple. Sinal de que até a última gota de vida, sucedem-se o que faz a alegria e a tristeza dos homens.
É o último sábado do ano, mas, felizmente, não é o último sábado da terra. Por isso que me alegra ter lutado pela minha convicção. Fui transparente e leal. Mas só devemos usar luvas com quem usa luvas. Creio que devemos ser soldados de uma guerra santa, que restitua ao Brasil o seu jeito afetuoso, cheio de ginga e marcado pela musicalidade. O Brasil mestiço, que nada tem dessa vulgaridade autoritária. Por isso, espero que 2019 acabe de se pôr e que o novo tempo possa amanhecer cheio de promessa e pleno de esperanças.