Na manhã deste sábado (23), durante o primeiro painel de líderes da Conferência da Aliança Progressista das Américas, socialistas e social-democratas foram unânimes em defender que os progressistas devem retomar a narrativa de defesa da democracia como único regime político capaz de promover as transformações sociais aspiradas pela sociedade. No entanto, apontaram formas e caminhos diversos de fazê-lo.
O evento teve início na sexta-feira (22) e termina neste sábado com a participação de dezenas de representantes de partidos socialistas e social-democratas de países da Europa, Ásia, Américas, África e Oceania. Este é o primeiro encontro da organização após a eleição da coordenadora-geral, Machris Cabreros, das Filipinas.
Em mensagem de boas-vindas transmitida aos participantes da conferência, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, disse que, em tempos de ceticismo em relação à democracia, mais do que nunca os progressistas devem empenhar-se para construir consensos e encontrar pontos de convergência.
“Tenho grande orgulho de ter participado, em 2022, de uma frente democrática, ao lado do presidente Lula, para recolocar o Brasil no caminho da normalidade institucional. O desafio é grande, mas já estamos colhendo os seus frutos, com a melhoria de indicadores sociais, econômicos e recuperação do meio ambiente. Ainda na transição de governo, testemunhei a importância de ouvir a sociedade, e não de amordaçá-la com medidas autoritárias, tão fáceis quanto erradas. Porque quem ouve mais, erra menos”, declarou.
Durante o painel, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, sugeriu a criação de uma política de comunicação eficaz para promover os valores de uma democracia “criativa e inovadora”. “Precisamos criar narrativas sobre aquilo que fazemos, porque fazemos coisas importantes e muitas vezes não sabemos registrar na memória da população. Por exemplo, no Brasil, ninguém lembra que o Sistema Único de Saúde, o seguro-desemprego e a aposentadoria rural são frutos da democracia”, destacou.
Segundo o coordenador da Aliança Progressista das Américas, Esteban Paulón, a extrema-direita foi bem-sucedida em empregar uma narrativa nostálgica para conquistar apoio popular, ao persuadir a sociedade de que o passado foi um tempo melhor e que deveríamos retornar a ele. “Fico muito chateado que a extrema-direita tenha ficado com a palavra ‘liberdade’. Porque a liberdade foi o que nós conquistamos. Precisamos voltar a construir uma narrativa, mas que tenha conteúdo, porque essa nova narrativa da extrema-direita é esvaziada de conteúdo”, defendeu.
Para o coordenador de Progresso Global do Centro para o Progresso Americano, Johan Hassel, a extrema-direita usa argumentos de autoridade e força para promover sua agenda política, e de forma falaciosa prega que a democracia não consegue realizar mudanças. Na avaliação de Hassel, os progressistas devem dar voz a novos líderes que representem uma promessa de renovação e uma conexão mais próxima com a sociedade. “A extrema-direita está com argumento de que ‘Eu sou mais forte’, de que ‘Eu posso fazer essa mudança’ porque a democracia não consegue. Então temos que retomar o argumento de que nós somos o povo, e que podemos alcançar seus sonhos. Temos que oferecer algo novo, um frescor, uma nova voz para os nossos argumentos”, defendeu.
Gregório Ramon Tingson, presidente da Akbayan Citizens Action Party, das Filipinas, ressaltou o desafio de enfrentar a manipulação e a disseminação de notícias falsas, uma tendência global potencializada pela inteligência artificial. Nas Filipinas, 25 dos 70 milhões de eleitores têm idades entre 18 e 30 anos e consomem, em sua maioria, informações online que não são produzidas pelos meios tradicionais de jornalismo. “Nós [do campo progressista] aumentamos o salário mínimo nas Filipinas e promovemos a justiça social, mas por que estamos perdendo?”, questionou Tingson, ressaltando que esse problema é resultado em grande parte da desinformação.
Para Giacomo Filibeck, secretário-geral do Partido dos Socialistas Europeus, a chave para superar as ameaças à democracia reside na presença de lideranças e movimentos coletivos que sejam considerados críveis, genuínos e autênticos. “A única solução é ter mais credibilidade do que os outros [campos ideológicos], ser genuíno e percebido assim pelos nossos eleitores. Dessa forma vamos trazê-los de volta e não retornaremos a esse passado supostamente glorioso que nunca existiu”, destacou.
O ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, foi falsamente rotulado como socialista e de esquerda, exemplificou a presidente da União de Renovação Democrática, a nicaragüense Suyen Barahona. “Houve governos que compraram esse rótulo”, disse.
Segundo ela, para além de uma narrativa reativa, é necessário que os progressistas promovam uma discurso que gere esperança e confiança na população. “Acredito que exista uma narrativa que encante e gere confiança. No passado, tivemos a capacidade de mobilizar o ânimo de milhões de pessoas. É preciso mexer com as emoções”, enfatizou.
Confira fotos do evento no Flickr do PSB Nacional: