Na reunião do Diretório Nacional desta quinta-feira (3), o Partido Socialista Brasileiro (PSB) prestou uma homenagem à França e às vítimas dos atentados em Paris do dia 13 de novembro. O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, entregou à primeira-secretária da Embaixada da França no Brasil, Elena Tonev, a nota de solidariedade “Os Socialistas contra o Terror”.
A reunião, realizada em Brasília, foi aberta com o Hino Nacional brasileiro e com a Marseillaise, o hino francês. Em seguida, o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, leu o texto assinado pelo presidente do partido.
Na nota, Siqueira condena os atos terroristas numa cidade que disseminou a cultura iluminista e uma civilização de paz. “Morremos de fato um pouco, todos nós que depositamos esperanças no mundo e que não queremos aderir à barbárie que, apenas por desvario, se proclama a serviço de Deus, quando em verdade sucumbiu, cegamente, ao ressentimento que não admite uma dose sequer de felicidade terrena”, afirma o texto.
Na homenagem, o ator Tony Correia, que tem dois filhos franceses, também condenou a barbárie e exaltou o valor de liberdade da República francesa. “Morrem os terroristas, morrem os ditadores, a liberdade não. Não há machado que corte a raiz do pensamento, não há bomba que resista à liberdade”, discursou.
A representante da Embaixada agradeceu à homenagem. “Essa solidariedade mostra a profunda amizade compartilhada entre os nossos povos. Os franceses e os brasileiros compartilham os valores pela liberdade, pela democracia, pelo debate político”, disse Elena Tonev.
Leia a íntegra da nota do PSB:
NOTA DE SOLIDARIEDADE À FRANÇA
Os Socialistas contra o Terror
O Partido Socialista Brasileiro (PSB), nesta ocasião em que realiza a última reunião do ano, do seu Diretório Nacional, sente-se na obrigação de prestar solidariedade ao governo e ao povo francês e de homenagear a memória das vítimas dos injustificáveis e inaceitáveis atentados terroristas perpetrados pelos fanáticos islâmicos, no dia 13 de novembro passado, na Cidade de Paris, França. País que, sendo a terra da liberdade, da igualdade e da fraternidade, também é conhecida pelo respeito aos direitos humanos e aos caros valores filosóficos e religiosos do mundo ocidental e cristão ao qual nos orgulhamos de pertencer.
Somos, portanto, todos nós franceses! Em primeiro lugar, porque como socialistas partilhamos de um humanismo radical e, desse modo, o ataque à França e a Paris, que mais do que qualquer outra capital no mundo, disseminou a cultura iluminista, é um atentado à construção, mesmo que futura, de uma civilização de paz que o socialismo pretende ser.
Somos todos franceses, igualmente, porque tanto quanto aqueles que morreram na sexta-feira, 13 de novembro de 2015, somos alvos da mesma ira. Não morreram nossos compatriotas de convicções, mesmo que inconsciente de suas fortunas, por expressarem uma alegria de viver que decorre pura e simplesmente da convicção de que nada está perdido de uma vez por todas, se pudermos dialogar em uma assembleia do povo? Não é o Estado de direito o substrato a assegurar todos os nossos prazeres, sejam eles grandes ou pequenos?
Nos fazemos franceses, também, porque é vil, abjeto, tomar a vida em ato de covardia absoluta. Que honra pode haver, para os perpetradores, em matar pessoas que não podem se defender; atirar a esmo, como se os alvos fossem pedras deixadas na estrada? O desprezo que o atos perpetrados implicam, o fato de que ele se fundamente em uma assimetria absoluta entre agressão e defesa demonstram que se trata aqui de um desapreço irreconciliável pela civilização. Os que matam, portanto, já se haviam feito mortos para a sociedade política, da qual se retiraram não por seus defeitos inerentes, mas pelo fato de que ela jamais lhes permitiria exercitar o ódio sem limites que nutrem por tudo que é humano, ou seja, pelas pequenas delícias que a vida nos oferece, como uma conversa no café, uma noite para dançar, encontros excitantes entre homens e mulheres, que não se vejam atravessados por prescrições de quaisquer espécies.
Mais do que franceses, portanto, somos todos parisienses! É essa vida imperfeita, repleta de vieses e de delícias, livres dentro das construções que pudemos realizar na sociedade política ─ à qual temos que nos filiar por ato de vontade ─ que é atacada, aqui, como em outros momentos de profunda escuridão da história da humanidade.
Nesse sentido, o luto que nos envolve, que tem por objeto vidas humanas ceifadas sem qualquer outro motivo que a intolerância, não é apenas aquele que nos acomete pela perda de entes queridos.
Morremos de fato um pouco, todos nós que depositamos esperanças no mundo e que não queremos aderir à barbárie que, apenas por desvario, se proclama a serviço de Deus, quando em verdade sucumbiu, cegamente, ao ressentimento que não admite uma dose sequer de felicidade terrena. Sartre, expressão ímpar da filosofia, que a França honrou como poucas nações no mundo, já havia identificado a natureza dessa idolatria que se pretende religião:
Interroguemos a um desses jovens turbulentos que infringem placidamente a lei e se juntam em bandos para surrar um judeu numa rua deserta: ele nos dirá que aspira a um poder forte que o exima da acabrunhadora responsabilidade de pensar por si próprio; sendo a República um poder fraco, vê-se levado à indisciplina por amor à obediência. Mas deseja realmente um poder forte? Na realidade, exige para os outros uma ordem rigorosa e, para si, uma desordem sem responsabilidade; pretende colocar-se acima das leis, evadindo-se ao mesmo tempo, da consciência de sua liberdade e de sua solidão. [Jean-Paul Sartre]
VIVA LIBERDADE! VIVA DEMOCRACIA! VIVA A FRANÇA!
Brasília-DF, 03 de dezembro de 2015.
Carlos Siqueira
Presidente Nacional do Partido Socialista Brasileiro-PSB