Durante o lançamento do V Caderno de Memória e Verdade – IBAD Interferência do Capital Estrangeiro nas Eleições do Brasil, nesta sexta-feira (26), no Recife, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, destacou a luta do ex-presidente do partido e ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes contra a ditadura militar e disse que resgatar a memória sobre o período autoritário é um ato de justiça com aqueles que lutaram para defender a democracia no país.
Siqueira criticou a demora do Brasil em resgatar a sua história sobre o regime repressivo e o fato de que o país é o único da América do Sul a não punir torturadores e responsáveis por atos criminosos no período. “Isso nos envergonha muito”, disse.
A cerimônia aconteceu no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo do Estado. A obra inédita traz 320 páginas sobre um dossiê de 17 volumes produzido pela CPI do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad). Instaurada em 1963, a CPI investigou a ação do Instituto no financiamento da compra de apoio de candidatos opositores à esquerda nas eleições de 1962.
No evento, o governador Paulo Câmara saudou a iniciativa da bancada socialista na Câmara dos Deputados de propor a inclusão de Miguel Arraes no Panteão dos Heróis Nacionais, ao lado de outros líderes que atuaram decisivamente no processo de consolidação da República.
De autoria do deputado Tadeu Alencar (PSB-PE), vice-líder da bancada, a proposta será apresentada na Câmara na próxima semana com o apoio de todos os deputados socialistas. O evento desta sexta-feira integrou as comemorações do ano do centenário do ex-governador Miguel Arraes.
Participaram do evento os deputados federais João Fernando Coutinho, Danilo Cabral e Severino Ninho; a ministra do TCU, Ana Arraes, e José Almino Arraes, ambos filhos de Miguel Arraes; Renata Campos e João Campos, respectivamente, viúva e filho do ex-governador Eduardo Campos, além de secretários do governo pernambucano, líderes partidários e representantes da sociedade civil.
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Cultura da conciliação
Em sua manifestação, Carlos Siqueira atribuiu a demora em se fazer justiça com as vítimas da repressão ao traço cultural que leva os brasileiros a preferir a conciliação ao conflito, o que conduziria a uma solução definitiva dos problemas.
“Procurou-se, e ainda se procura no presente caso, encontrar uma espécie de solução de compromisso entre as forças que enfrentaram no passado para evitar que o presente tenha que debater temas que dividiram a nação, e cuja repressão se baseou na simetria entre resistência civil e o poder dos que controlam o aparato bélico do Estado”, afirmou. Tradição esta, prosseguiu Siqueira, que ainda hoje condena a população negra à exclusão e violência.
Para ele, é por meio dessa recuperação histórica que "seres humanos de carne e osso passam a ter a oportunidade de reclamar a memória pública aos registros históricos, a sua existência abreviada ou privada das potencialidades que lhe eram inerentes" e, assim, possa se produzir uma noção de justiça àqueles que foram vitimados pelo aparelho repressivo do Estado na época da ditadura.
História dos injustiçados
Durante o evento, ambientado no mesmo salão em que há 53 anos o então governador Miguel Arraes assinou o Acordo do Campo, o presidente socialista ressaltou a importância do trabalho realizado pela Comissão da Verdade pernambucana. “É essencial enaltecer o trabalho importantíssimo da nossa Comissão, que nos propicia a oportunidade de reescrever nossa história porque, ao fim e ao cabo, vencemos nós. Mas a história dos injustiçados é exatamente essa que está sendo escrita neste momento”, disse.
“Os que se levantaram contra o golpe, e, portanto, contra a ditadura que viria a se instaurar no Brasil, lutaram por muitos valores, mas soberania e liberdade democrática, seguramente, figuram entre eles”, destacou o líder socialista. “Rememorar os que foram objetos de injustiça é um dever que nos cabe por sermos tributários de uma tradição humanista, que almeja, sobretudo, constituir uma civilização fraterna e pacífica”, resumiu Siqueira.
Na lista dos resistentes ao aparelho repressivo brasileiro, Siqueira destacou que Miguel Arraes foi “preso e exilado por realizar governos claramente orientados às perspectivas, às expectativas populares”. “Nem por isso, (Arraes) se deixou vencer ou desanimar”, enfatizou. “Miguel Arraes de Alencar manteve ainda uma lucidez política que o tempo só fez aumentar”.
Siqueira saudou a iniciativa do governo pernambucano e da bancada na Câmara dos Deputados de propor a inclusão do ex-governador no Panteão dos Heróis Nacionais.
Reconhecimento
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, parabenizou a bancada federal de Pernambuco pela iniciativa. "Assim alçamos oficialmente nosso grande líder ao status merecido de herói nacional. É um reconhecimento a um homem que esteve à frente do seu tempo, que batalhou por causas nobres, que sempre lutou em favor dos interesses do povo brasileiro e da democracia. Cravar o nome desse grande homem no Panteão é eternizar de forma legítima e justa suas lutas e suas bandeiras na história do Brasil", afirmou.
Pioneirismo
“O Estado de Pernambuco, sem dúvida nenhuma, foi o estado que mais sofreu com a ação dessas duas entidades (IBAD e Ipea) e, particularmente, com a distribuição financeira de recursos de forma ilimitada, que era uma forma não só de contornar e subjugar a soberania nacional, mas manipular uma eleição democrática que estava em curso no estado brasileiro”, destacou o secretário-geral da Comissão da Verdade de Pernambuco, Henrique Mariano.
A Comissão da Verdade de Pernambuco foi a primeira a ter acesso aos arquivos do dossiê da CPI do IBAD, mantidos em absoluto sigilo por mais de 50 anos pelo Estado brasileiro. O Caderno traz o histórico da CPI e aborda o crescimento das esquerdas em Pernambuco (1945 – 1962); a relação entre o Instituto, a imprensa, as eleições e o modus operandi da atuação ibadiana no financiamento das eleições.
Assessoria de Comunicação/PSB Nacional