“Quem, seja rico ou seja pobre, sente-se desesperado, terá um lugar especial no coração do bispo. Mas não venho para ajudar ninguém a se enganar, a crer que seja suficiente um pouco de generosidade e assistência social. Há misérias que gritam, diante das quais não temos o direito de ficar indiferentes”, Dom Helder Câmara, no dia da sua posse na diocese de Olinda e Recife em 11 de abril de 1964.
Nesta terça-feira (27), é celebrado o 20º aniversário de morte de dom Hélder Câmara (1999), arcebispo emérito de Olinda e Recife, o “profeta da não violência, da justiça e da paz”.
Patrono brasileiro dos Direitos Humanos declarado em 2018, dom Hélder viveu e atuou em tempos difíceis em um Brasil sob a ditadura militar, dedicando uma vida inteira às causas sociais e à defesa dos direitos humanos.
Conhecido como “mensageiro da esperança” ou mesmo como “Dom da Paz”, dom Hélder tornou-se símbolo de resistência contra a ditadura militar, sendo um dos grandes responsáveis por fortalecer as comunidades eclesiais de base que lutaram contra o regime.
O compromisso social estava no cerne da atividade religiosa de dom Hélder. Além de líder da Juventude Operária Católica, o religioso fundou a Sindicalização Operária Feminina, entidade que lutava pelos direitos de trabalhadoras domésticas e lavadeiras.
Dom Hélder dedicou-se a atividades de lazer e alfabetização de jovens sem acesso à formação.
Durante a Segunda Guerra Mundial, acolheu imigrantes e refugiados que chegavam ao território brasileiro. Tornou-se bispo em 1952, ano em que fundou a Conferência Nacional do Bispos do Brasil (CNBB).
A partir de então passou a se dedicar a causas como a Cruzada São Sebastião, que resultou em conjuntos habitacionais para moradores de favelas, e o Banco da Providência, para atender aos sem renda.
“O bispo Vermelho”, como o chamavam, exortava a lutar pelos pobres, indefesos e marginalizados, pelo direito dos que não têm voz, pelos oprimidos e pelos que sofrem.
Dom Hélder foi um dos interlocutores da família de Fernando Santa Cruz, militante de esquerda desaparecido durante o período da ditadura e alvo de recente ataque do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro.
Participou das quatro sessões do Concílio Ecumênico Vaticano 2º, nos anos 1960, e foi um dos proponentes do Pacto das Catacumbas, em que 42 sacerdotes de todo o mundo se comprometeram a assumir atitudes com o objetivo de reduzir a pobreza global.
O documento é considerado o embrião da Teologia da Libertação, corrente cristã que determina assumir “a opção preferencial pelos pobres”.
Em uma de suas frases mais propaladas, o arcebispo de Olinda e do Recife disse: “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo; quando pergunto por que eles são pobres, chamam-me de comunista”.
Após uma vida dedicada às causas sociais e à defesa dos direitos humanos, dom Hélder Câmara está cada vez mais próximo de ser considerado santo pela Igreja Católica.
Vinte anos após seu falecimento, o processo de canonização do religioso entrará na fase romana das investigações no dia 5 de setembro.
Com informações da Folha de S. Paulo, Vatican News, Brasil 247 e Brasil de Fato