O debate " A Voz das Ruas", promovido pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) e pela Fundação João Mangabeira (FJM), contou com a presença de todos os Segmentos Socialistas – Negritude, Juventude, Sindical, Popular, LGBT e Mulheres; dos deputados federais Glauber Braga (PSB/RJ), Valtenir Pereira (PSB/MT), Beto Albuquerque (PSB/RS), Antonio Balhmann (PSB/CE), Leopoldo Meyer (PSB/PR), Luiza Erundina (PSB/SP), a senadora Lídice da Mata (PSB/BA) e os dirigentes dos núcleos da FJM nos estados. A abertura foi feita pelo primeiro secretário Nacional do PSB e presidente da FJM, Carlos Siqueira, com participação do vice-presidente Nacional do PSB, Roberto Amaral, e da secretária Especial da Executiva Nacional do Partido, Mari Machado.
A diretora do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari, foi a primeira a falar entre os palestrantes e trouxe aos presentes os resultados de três pesquisas recentíssimas que o instituto acaba de fazer sobre as manifestações populares que se espalharam pelo país nas últimas semanas. As pesquisas ouviram 1.775 internautas, selecionados de uma lista que o Ibope Inteligência já monitora e que estão constantemente conectados na rede, entre os dias 5 e 17 de junho; 1.008 pessoas da população, nos dias 19 e 20 de junho; e 2.002 manifestantes que estavam nas ruas durantes os protestos de 20 de junho.
Sobre o perfil desse universo, a pesquisadora revelou que 48% dos internautas tinham menos de 28 anos, 55% menos de 20 anos. Ainda, 52% deles eram mulheres, 44% pertenciam à classe social C e 47% à classe B. “Portanto, a maioria não era da classe alta, como cogitaram alguns críticos, mas também não eram pobres”, avaliou Márcia Cavallari. Da população ouvida, também 52% eram mulheres, mas, aí, a maioria (23%) estava na faixa etária dos 55 anos e mais. Com relação à escolaridade, 36% da população ouvida completou o ensino médio e apenas 15% tinha o superior completo. A maioria tinha renda até a faixa de dois salários mínimos, o que é significativo, segundo a diretora do Ibope.
Já entre os manifestantes ouvidas na pesquisa, 50% eram homens e 50% mulheres, num perfil mais equilibrado em relação ao sexo, mas a faixa etária era bem menor: 43% tinham até 29 anos que, somados aos que tinham até 29 anos, totalizavam 63%. Também a escolaridade era maior – 43% tinham nível superior completo.
As três pesquisas, explicou a diretora do Ibope, foram distribuídas em oito capitais.
Quando a pergunta foi sobre o grau de confiança em que a situação do país irá melhorar, 28% do segmento população respondeu que está pessimista ou muito pessimista. Além disso, 78% dos entrevistados citou a saúde como o principal problema, em todas as cidades de todos os estados ouvidos. No entanto, para 55% a segurança é o maior problema e, para 52%, a educação.
Entre os próprios manifestantes, o que chamou a atenção do Ibope foi que 89% afirmaram que têm grande interesse pela política no Brasil. “Em mais de nove anos no Ibope, nunca vi um interesse tão grande pela política”, surpreendeu-se Márcia Cavallari. “Ainda, 83% dos manifestantes afirmaram que não se sentem representados pelos políticos, percentual que chega a 89% em relação aos partidos políticos”. Agravando mais esse cenário de descrença, 96% deles disse que não é filiado a nenhum partido.
A pesquisa revelou também que 75% da população está a favor das manifestações atuais nas ruas, bem como 73% dos internautas. Mais:59% da população é contra o aumento da tarifa dos transportes, tema que puxou as primeiras manifestações.
O ambiente político do país como motivador da ida às ruas foi outro tópico da consulta popular. Medido depois, inclusive, do anúncio das reduções das tarifas do transporte, o tema ficou em primeiro lugar entre os entrevistados, com 65%. Porém, temas correlatos, como a luta contra a corrupção no país, motivaram 49% da população e 31% os gastos e uso do dinheiro público com a Copa do Mundo 2014.
Sobre a participação nas manifestações, 6% da população afirmaram que participaram de alguma forma, bem como 10% dos internautas. “Inclusive, um fato novo importante que foi registrado é que 46% dos manifestantes que foram às ruas participavam pela primeira vez de um protesto”, destaca a diretora do Ibope.
Com relação à forma de conhecimento das manifestações 62% dos ouvidos disse que soube pela rede social Facebook e 29% pela internet. O Facebook também foi a mídia social mais utilizada para mobilizar e marcar as manifestações – segundo 77% dos manifestantes ouvidos.
Sobre a ação das polícias para combater o vandalismo durante as manifestações, 42% da população consideraram que houve violência, 57% dos manifestantes também e 78% dos internautas. “Também nos surpreendeu a descoberta de que 60% dos manifestantes acreditam que as depredações nunca são justificáveis, em nenhum caso, ao mesmo tempo em que uma fatia considerável – 28% – acham que faz parte do caminho e são justificadas em certas situações”, afirma Márcia Cavallari.
Por fim, a diretora do Ibope considerou positivo que 59% da população acreditam que as manifestações são a melhor forma para cobrar mudanças no país e que, também, 94% dos manifestantes acreditam que elas gerarão, de fato, essas mudanças. “Mas isso num contexto em que 47% dos entrevistados nas ruas não acreditam nem confiam nos políticos, e 46% não acreditam nem confiam nos partidos políticos”.