“O difícil se faz logo, o impossível demora um pouco mais” – Miguel Arraes
Do lado de fora do Palácio do Campo das Princesas, no Recife, militares fortemente armados não deixavam ninguém passar. Com canhões apontados para o prédio, exigiam que o governador de Pernambuco renunciasse ao cargo e abandonasse o local. Miguel Arraes recusou-se a cumprir a ordem “para não trair” a vontade dos que o elegeram. Foi preso então. Era 1º de abril de 1964, uma quarta-feira. Escoltado por oficiais do IV Exército, metido dentro de um fusca, ao cair da noite Miguel Arraes de Alencar saiu do Palácio para entrar de vez na história política do País.
Arraes Guerreiro do Povo Brasileiro! Este é o grito de guerra dos socialistas presentes em todos os atos e manifestações do PSB, e é assim que Miguel Arraes é conhecido. Oito anos sem Arraes, mas uma vida inteira presente na memória do povo brasileiro.
Miguel Arraes é uma figura emblemática da política brasileira. Sob diversos aspectos sua trajetória pessoal e pública se confunde com a história do país nos últimos 40 anos. Cassado pelo Movimento Militar de 1964, quando estava – e as palavras são de Caetano Veloso em seu livro Verdade Tropical – “fazendo um governo admirável em Pernambuco em estreita união com as camadas populares”, viveu anos exilado, só retornando ao Brasil em setembro de 1979.
Foi o último representante de uma geração que marcou a história recente do país, ao lado de Tancredo Neves, Leonel Brizola e Ulysses Guimarães. Ex-governador de Pernambuco por três mandatos, três vezes deputado federal e presidente Nacional do Partido Socialista Brasileiro de 1993 a 2005, Miguel Arraes é até hoje uma forte referência para a esquerda brasileira.
Morreu no dia 13 de agosto de 2005, com 88 anos, e disposto a se reeleger deputado federal em 2006. Deixou um herdeiro político – o neto Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente Nacional do PSB. Para ele, que acompanhou parte de sua trajetória política, seu avô foi “um dos grandes brasileiros que contribuiu para que o país fosse hoje mais igual. Dedicou sua vida às causas do povo, sem nunca mudar de lado, nem de conversa”.
No dia 15 de dezembro do ano passado, aniversário de 95 anos de Arraes, o líder do PSB no Senado Federal, Rodrigo Rollemberg (DF), relembrou a trajetória do socialista. “Arraes costumava dizer que agora é hora de fazer o futuro e que o futuro seria o tempo de fazer do homem brasileiro. Falava do tempo em que todos os brasileiros teriam condições de se expressar em suas diversas matrizes étnicas e culturais. Falava do tempo em que todos os brasileiros teriam meios de participar efetivamente da história do País, do tempo em que teriam condições de assumir as suas liberdades em seu sentido mais concreto e que todas as liberdades implicariam o exercício de um poder efetivo”. A visão de futuro de Miguel Arraes chegou ao presente. Manifestações no Brasil inteiro mostram que o líder socialista tinha razão: chegou a hora de o povo participar efetivamente da história do Brasil.
Para Roberto Amaral, vice-presidente Nacional do PSB, Arraes estará sempre presente. "Ainda que todo homem seja implacavelmente de sua época e de seu lugar, Arraes, o mais cearense dos pernambucanos e o mais brasileiro dos nordestinos, era, acima de tudo, um homem do mundo (que procurava mudar) e de todo tempo, pois seu compromisso era com o futuro".
Na opinião do líder do PSB na Câmara, deputado Beto Albuquerque (RS), hoje é uma data triste, porém valiosa no que diz respeito ao legado de Arraes. “Lamentamos hoje esses oito anos do falecimento de umas das maiores lideranças políticas desse país, de um guerreiro do povo, da luta dos mais pobres, do homem que lutou por democracia e mobilizou a gente brasileira para vencer a ditadura. Ao mesmo tempo em que sentimos essa perda, tivemos muitos ensinamentos e com eles prosseguimos a nossa caminhada como socialistas. Arraes está em nossa memória, está em nosso coração, e há uma responsabilidade enorme de nossa parte em honrar essa conduta do PSB e a sua trajetória histórica que condiz com a democracia desse país.”
O presidente da Fundação João Mangabeira e primeiro secretário Nacional do PSB, Carlos Siqueira lembrou Arraes como “um homem que, como poucos, foi conhecedor de sua terra e de sua gente, que lutou arduamente para conduzi-las a um novo patamar de consciência, de dignidade e de desenvolvimento. Homem de diálogo e de profundas convicções humanísticas, arguto no conhecimento da realidade do Brasil e do mundo, sempre atento e promotor do verdadeiro sentido das mudanças sociais, políticas e econômicas. Miguel Arraes, teve um profundo senso prático e consciência de limitações do poder que chegou a alcançar e, não podendo realizar as transformações estruturais pelas quais sempre lutou, soube, como ninguém, atar as feridas desta parcela da humanidade que existe no Nordeste e na terra de Abreu e Lima, em Pernambuco, e sobre elas lançar um pouco de azeite e de vinho para mitigar o sofrimento dos desamparados”.
Morreu Arraes?… Não, Arraes está vivo! Vive entre nós! – Homenagem do Partido Socialista Brasileiro.