Candidato da aliança do PSB com a Rede Sustentabilidade à sucessão presidencial, Eduardo Campos reafirmou que sua oponente em outubro será a presidente Dilma Rousseff e não os antecessores dela. Em visita ao Rio Grande do Sul, ele foi questionado por jornalistas se estaria evitando um confronto com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Campos negou: “Nós estamos discutindo a sucessão da Dilma, não é a sucessão nem do Fernando Henrique nem do Lula, então é natural que nós façamos a análise sobre o período que a Dilma governa, é ela a candidata”, avisou. “E foi ela quem se comprometeu a melhorar o Brasil, foi ela quem assumiu esse compromisso. Foi ela quem assumiu o compromisso de melhorar a qualidade da política e foi ela quem não conseguiu fazer”. O presidenciável disse lamentar os resultados do governo da petista e comparou suas críticas à necessidade que tem um professor de dar notas a seus alunos “Eu até lamento, sinceramente, que ela não tenha conseguido fazer a entrega daquilo que se comprometeu. De fazer uma gestão mais própria; uma política mais limpa e mais decente, com gente comprometida com os princípios republicanos. Eu lamento, mas o fato é que ela não conseguiu e chegou a hora de a gente julgá-la. É feito um aluno que a gente tem em sala de aula: a gente pode gostar dele, ele pode ter um bom comportamento, mas chega o dia da prova e ele não estudou. Você pega a prova, os quesitos ele não respondeu, você tem que ter coragem de colocar a nota dele”, sentenciou.
O presidenciável tratou de diversos temas, da política à economia, e também sobre saúde. Na sua avaliação, a CPMI da Petrobras terá de construir resultados, pois a população brasileira quer respostas. “É preciso esperar o tempo para ver no que vão dar essas comissões parlamentares de inquérito. Nós temos uma representação na comissão mista, na outra nós não temos, mas nós sabemos que o Ministério Público, a Polícia Federal, que o próprio Judiciário também está investigando”, comentou. “aqueles que estão dentro do Parlamento imaginando que vão interromper a investigação ou desviar o foco tem que ter muito cuidado, por que a verdade virá”. Eduardo comentou os problemas da estatal e as esperanças estimuladas pelo governo com o desempenho no setor energético, que não se confirmaram. “Quantas pessoas assalariadas, que juntaram ali uma poupança de 10 mil, de 5 mil, de 12 mil, 20 mil reais; compraram ações da Petrobras nos últimos anos e perderam metade da poupança que construíram com grande esforço para um momento de doença, para comprar uma casa própria, para poder efetivamente ter uma reserva estratégica para o caso de perder o emprego? Você acha que essas pessoas, que estão espalhadas por esse Brasil afora, vão tolerar qualquer cortina de fumaça para a apuração? Eu acho que não”.
“Eu sou daqueles que entendem que a política externa brasileira não pode ser uma política de partido. Não pode ser do meu partido, nem de nenhum partido: tem de ser do país. E sendo do país, a gente deve pegar a Constituição Federal, no artigo quarto, e ver lá que está muito bem definida qual é a política externa que o Brasil, deve ter. É uma política que respeita a autodeterminação dos povos; que defende liberdade, democracia, direitos humanos. Alimenta a orientação da política externa que nós vamos implementar a partir de primeiro de janeiro. O Brasil tem um patrimônio extraordinário, construído ao longo da sua história e também pela nossa diplomacia, que é de ser um país que tem as portas abertas em qualquer recanto do mundo. Nós não temos contencioso com os nossos vizinhos, nós temos a possibilidade de ser ponte, inclusive, entre nações que disputam. Nós não devemos perder essa condição. Devemos ter firmeza na condução de uma política externa de Estado, que aposta num mundo cada vez mais multipolar, que não tem uma visão preconceituosa com quem quer que seja, mas que também defende os princípios consignados na nossa Constituição”, defendeu o socialista.
MANUTENÇÃO DAS CONQUISTAS– Questionado sobre programas como o Bolsa Família e o Mais Médicos, o presidenciável voltou a garantir que um futuro governo seu não desmontará ações e programas, mas sim, trabalhará para ampliar o que for bom e corrigir o que não estiver andando bem. “O nosso compromisso é construir uma mudança em que possamos carregar as conquistas, e não destruir as conquistas. O Bolsa Família equivale a uma conquista da sociedade brasileira no sistema de assistência social e passou a ser muito importante para 14 milhões de famílias. Eu vi o Bolsa Família surgir no debate dentro do governo, no primeiro governo do presidente Lula. A Marina também. Então, nós vamos, sim, manter o Bolsa Família”, afirmou. “Nós queremos ampliar o Bolsa Família para famílias que não recebem ainda, mas nós queremos que os que recebem o Bolsa Família recebam outras políticas que não estão recebendo hoje. Creche de qualidade, escola pública de qualidade, assistência da saúde, segurança, moradia, saneamento. Não é só dar um cartão para uma família pobre e achar que está resolvido o problema”, explicou.
Para Campos, a efetividade dos programas sociais depende não apenas na qualidade e abrangência do atendimento, mas principalmente da oferta de portas de saída que garanta dignidade aos beneficiários. “É preciso chegar com outras políticas públicas para aquela família. Só assim, se a gente fizer o fim do apartheid entre a escola do filho do rico e a escola do filho do pobre, é que a gente vai poder superar o ciclo das filhas do Bolsa Família serem mães do Bolsa Família. A gente só vai ter as filhas do Bolsa Família sendo professoras, sendo jornalistas, prefeitas, engenheiras, médicas, artistas, se a gente entender que mais do que o Bolsa Família, as pessoas que recebem o benefício querem cidadania”, enfatizou. “E cidadania não se constrói só com um cartão. Se constrói com um conjunto de políticas públicas que estão faltando hoje na realidade brasileira”.