Morreu nesta quarta-feira, 30, um dos mais renomados pianistas brasileiros, Arthur Moreira Lima, aos 84 anos. O velório está previsto para esta quinta-feira, no Jardim da Paz, em Florianópolis.
Filiado ao PSB, Moreira Lima foi lembrado pelo presidente nacional do partido, Carlos Siqueira, em suas redes sociais.
“Nos despedimos de Arthur Moreira Lima, nosso querido ‘Pianista do Povo’. Com talento inigualável e generosidade, Arthur encantou gerações e levou a música clássica aos quatro cantos do Brasil, sempre com a paixão e a maestria que só ele possuía”, escreve.
Siqueira destaca a contribuição “inspiradora e memorável” do músico ao PSB e à Fundação João Mangabeira, braço de formação do partido.
“Como ilustre filiado e participante dedicado dos nossos congressos, onde iniciava suas apresentações com a emocionante Jesus, Alegria dos Homens (…) sua ausência deixa boas memórias e saudades eternas em todos nós”, afirma. “Vá em paz, querido amigo e companheiro socialista.”
Moreira Lima lutava contra um câncer no intestino e faleceu após duas semanas de internação no Imperial Hospital de Caridade, em Florianópolis (SC), cidade aonde morava.
Natural do Rio de Janeiro, o pianista começou o estudo do instrumento ainda criança. Estudou piano na França a convite de Marguerite Long e no Conservatório Tchaikovsky, em Moscou. Diplomado na instituição, foi assistente de cátedra de Rudolph Kehrer por três anos.
Em 1965, conquistou o segundo lugar no prêmio Frédéric Chopin e, em 1970, ficou em terceiro no prêmio Tchaikovsky. Com mais de 60 álbuns, Moreira Lima se apresentou com as orquestras filarmônicas de Leningrado, Moscou e Varsóvia e com as sinfônicas de Berlim, Viena e Praga.
Reconhecido intérprete de Chopin e Liszt, também se dedicou à música popular brasileira e a gravação, por ele, de um disco duplo com obras de Ernesto Nazareth contribuiu para o resgate da obra do compositor. No final dos anos 1990, lançou uma coleção de discos com suas gravações que eram vendidos em bancas de jornais.
Olhar para os humildes
Preocupado em dar acesso a música erudita a população mais humilde, nos anos 1990, quando era subsecretário de Cultura (o secretário era Darcy Ribeiro) do governo de Leonel Brizola, Moreira Lima criou um programa de teatro móvel para apresentações em praça pública de cidades do interior, de que participavam artistas de diferentes áreas, e ele próprio ao piano. No repertório para essas ocasiões, alternava música de concerto e popular.
A iniciativa foi a semente de vários projetos que o levaram nos anos 2000 a percorrer o país inteiro, a bordo de um caminhão, da floresta amazônica ao pampa, para realizar os concertos a céu aberto. Em vez de palcos improvisados, apresentava-se num caminhão-teatro: uma carreta-baú especialmente adaptada para levar o piano de cauda. No começo, sem patrocínios, investiu recursos próprios para tornar realidade o sonho de levar a música a escolas, praças e comunidades longínquas.
Moreira Lima viajava com dois pianos Steinway de cauda e um terceiro de armário.
“Percorremos o Brasil inteiro, os 26 estados e o distrito federal. Chegamos a lugares a princípio impensáveis, houve barrancas em que o caminhão não subia de jeito nenhum, chegava gente para ajudar. Subimos em balsas até o Rio Solimões, tocamos em reservas indígenas, em localidades ribeirinhas, em municípios distantes e isolados no Nordeste”, contou em entrevista ao portal Paraty.com.br, em 2014, quando se apresentou na cidade.
“Acordar de um pesadelo”
A última participação de Moreira Lima em evento do PSB – partido que teve entre seus fundadores Felipe Moreira Lima, tio do pianista – foi em julho de 2022, na Convenção Nacional que confirmou a candidatura do vice-governador Geraldo Alckmin a vice-presidente da República na chapa do ex-presidente Lula. O artista tocou o hino nacional diante dos mais de 400 delegados socialistas reunidos no salão do Meliá Brasil 21, em Brasília.
Após o hino, entre um discurso e outro, o pianista interpretou clássicos como Carinhoso, de Pixinguinha, e Jesus, alegria dos homens, de Sebastian Bach.
Emocionado, após interpretar Asa Branca, de Luiz Gonzaga, ele disse se sentir como “alguém que vai acordar de um pesadelo”.
“É uma enorme emoção estar aqui. Eu acho que nunca toquei Asa Branca com tanta emoção. Faz sentido essa peça existir quando a gente vê todos nós reunidos aqui. Eu acho que estou me sentindo como alguém que vai acordar de um pesadelo”, afirmou.
E manifestou sua felicidade ao participar de um momento que simbolizava a união de democratas de partidos de esquerda para derrotar um projeto autoritário no país. “É bom ver tantos talentos como vocês todos, nós companheiros aqui, tantos talentos reunidos, e todos juntos. E sem perder cada um a sua individualidade, que é muito importante. Cada um com suas ideias, e um enorme somatório de sucesso do nosso país, de sucesso para nós também, e de felicidade para o nosso povo que merece”, completou.