O PSB em parceria com a Universidade Lusófona do Porto, em Portugal, realizou, na última semana, uma oficina sobre comunidades criativas. O objetivo é desenvolver uma proposta que incorpore esse conceito no projeto nacional de desenvolvimento do PSB, apresentado durante o processo da Autorreforma.
Comunidades criativas são grupos de pessoas de diversas áreas como arte, design, tecnologia e empreendedorismo, que se unem para compartilhar interesses e objetivos ligados à criatividade e inovação. Além da troca de ideias, o objetivo é colaborar em projetos e apoiar uns aos outros para o desenvolvimento de novas soluções e expressões culturais, com criação de negócios de impacto econômico, sustentável e social em suas comunidades.
Participaram o secretário de Formação Política, Domingos Leonelli, o diretor de Licenciatura em Design de Comunicação da Universidade Lusófona, Antônio da Cruz Rodrigues, a socióloga Raissa Rossiter, e o coordenador do mestrado em Economia Criativa da Universidade Católica de Brasília, professor Alexandre Kieling. O debate foi mediado pelo secretário nacional de Relações Internacionais do PSB, Paulo Bracarense.
Também participaram alunos de mestrado em economia criativa da Universidade Católica de Brasília e integrantes da Frente Parlamentar da Economia Criativa, do Instituto Pensar e do Observatório de Economia Criativa da Bahia.
Para Domingos Leonelli, a nova indústria da informação e do conhecimento, que agora impulsiona o crescimento econômico global, requer uma atualização da estratégia de desenvolvimento voltada para a economia criativa. O novo programa do PSB busca se adaptar a esse novo paradigma mundial, ao reconhecer o valor do conhecimento como motor principal da produção.
Segundo ele, essa mudança tem dado origem às chamadas cidades criativas, que buscam integrar e potencializar a criatividade de suas populações para enfrentar problemas sociais e urbanos, como desigualdade, saúde e educação. “O nosso desafio no Brasil é transformar, utilizar essa criatividade, fazer com que as nossas cidades criativas sejam, em primeiro lugar, menos desiguais. É preciso enfrentar o grave problema de desigualdade das cidades, e nós acreditamos que uma estratégia de desenvolvimento das cidades criativas pode contribuir muito para isso”, destacou Leonelli.
O professor Alexandre Kieling, por sua vez, defendeu que o incentivo à economia criativa deveria seguir um modelo semelhante ao do agronegócio, que não apenas se beneficiou de políticas de proteção, mas também de subsídios que sustentaram seu crescimento ao longo dos anos. Entretanto, ele ressaltou que essa política, por si só, não é suficiente para sustentar a vasta gama de atividades criativas existentes no país. Dada a extensão territorial e a diversidade da população, o financiamento estatal atual é inadequado para suportar todas as iniciativas culturais, ressaltou.
“Não há suporte suficiente, no tesouro, na arrecadação, para bancar essa mesma lógica, o que mostra que há necessidade de desenvolver articulações que têm o envolvimento do setor privado e que trabalhem um pouco nesse pressuposto do empreendedorismo, entendendo aqui o empreendedorismo como uma nova dinâmica que vai se configurando no mundo econômico e no mundo do trabalho”, disse Kieling.
Ele elogiou a iniciativa do PSB de incorporar a economia criativa em seu programa partidário, além das ações práticas que prefeituras e ministérios, sob a liderança do partido, têm implementado nesse âmbito país afora. “Em nosso programa na universidade, exploramos todas as possibilidades dessa temática se espalhar pela sociedade de forma horizontal. Portanto, é essencial que essa abordagem também seja incorporada pela política. Ver um partido adotar essa perspectiva em seu programa e traduzi-la em ações em cada local onde atua é extremamente positivo. Temos notado que as prefeituras lideradas pelo PSB começaram a abordar esse tema, e nos ministérios, a economia criativa está se tornando uma pauta relevante”, afirmou.
Economia criativa e empreendedorismo
Com a crescente mecanização e automação, incluindo o uso de inteligência artificial, as grandes indústrias estão gradualmente perdendo sua capacidade de gerar empregos. Nesse novo contexto, as atividades empreendedoras com base nas comunidades criativas surgem como urgentes, para que a população não dependa apenas de grandes organizações como fontes de trabalho, destacou Kieling.
À medida que as indústrias se tornam mais automatizadas, é fundamental que as estruturas econômicas se adaptem para incluir novos arranjos produtivos, como clusters, coletivos e hubs, que promovem formas inovadoras de associação e colaboração, explicou Kieling.
O professor Antonio da Cruz, por sua vez, defendeu que uma comunidade criativa deve ser constituída por um grupo de atores ou protagonistas de diferentes áreas de conhecimento, para potencializar a capacidade de inovação e a resolução de desafios, e tranformá-los em oportunidades.
A biologia, por exemplo, pode inspirar a criatividade ao examinar a evolução das espécies, enquanto a psicologia explora formas de pensar e de cognição, disse. A lógica, da mesma forma, ajuda a estruturar processos e soluções.
Para o acadêmico, é essencial ampliar a participação de diferentes atores e saberes nas dinâmicas criativas, pois a criatividade, em sua essência, não pode ser vista como um ato isolado. “Já tivemos experiências no Brasil e em outros países da Europa, e é curioso que sempre que temos um grupo que é constituído por estas áreas de conhecimento, os resultados são melhores e até são mais rápidos. Parece um pouco teórico, mas não é, porque a agilidade em criar com base nesta dinâmica, neste modelo, é muito grande”, explicou.
Parceria
A colaboração entre o PSB e a Universidade Lusófona teve início com a ‘Missão Portugal’, quando, em junho deste ano, uma delegação do PSB e da Fundação João Mangabeira teve uma série de encontros com integrantes do Partido Socialista de Portugal e acadêmicos portugueses que tratam de assuntos relacionados à economia criativa.
A parceria busca explorar como as comunidades criativas podem contribuir para o desenvolvimento sustentável, com estímulo a criatividade e a inovação em diversas áreas.
Segundo Paulo Bracarense, as comunidades criativas fomentam uma economia mais dinâmica e inclusiva, capaz de enfrentar os desafios da Revolução 4.0 e, ao mesmo tempo, promover um desenvolvimento sustentável, social e cultural.
“O PSB junto com a Universidade Lusófona está debatendo as comunidades criativas para criarmos um projeto nacional de desenvolvimento que comporte essa iniciativa. A economia criativa é uma tendência importante dentro dessa nova fase da humanidade, da Revolução 4.0, da economia nacional e mundial”, explicou.
Assista à íntegra da oficina: